Tomaz Fantin
Há algumas semanas terminei de ler Dom Casmurro. Capitu ter ou não traído o Bentinho me pareceu secundário. O clássico de Machado de Assis é uma obra-prima do deboche.
O Bruxo conseguiu rir da burguesia, das aparências, do narcisismo dos artistas, de si próprio e do leitor. Deve ter escrito mordendo as bochechas entre uma gargalhada e outra.
Me faz bem dedicar leituras e viagens pelo Brasil. Nosso país, nas letras e no turismo, tem espaço para muitos quilômetros e páginas com uma variedade infinita de comidas, sucos, sons, paisagens, humores e sotaques.
O cara passeia a cavalo pela fronteira do Tabajara Ruas, depois escuta os pensamentos da Clarice Lispector, adentra o sertão de Guimarães Rosa para descer o Rio Amazonas com o Milton Hatoum. Faz uma parada no Pelourinho para tomar uma cachaça com o Jorge Amado que dá energia para subir a quebrada do José Falero. E, depois de um pôr do sol em algum cemitério paulista com a Lygia Fagundes Telles, fecha a noite ao redor de uma fogueira no Pantanal do Manoel de Barros.
Ler os humores do próprio idioma parece muito com carregar somente a identidade, pagar em reais, arrumar uma mochila leve e escolher entre a pousada da vovó que faz cuscuz ou um hotel com café da manhã. De chinelo.
Praias, montanhas, dunas, cachoeiras, cidades históricas, cânions, museus, trilhas, novelas, poesias, contos, romances e crônicas geniais eu recomendo o Brasil.
Não que sejamos isentos de sofrimento e dor. No campo, nas cidades e em nossos livros. Real e visível. Doendo na nossa carne.
Por outro lado, somos mestres em carnavalizar uma boa história.
E eu tenho as minhas suspeitas de que não deve fazer lá muito mal dar uma olhadinha para o lado cômico da vida de vez em quando. Afinal de contas, os poderosos também usam da tristeza para nos enfraquecer.
É nessa hora que devemos ler um Machado de Assis, descer para um forrózinho na paradisíaca beira-mar de Maceió e depois estatizar a Braskem.
