Agosto


Tomaz Fantin

No conto “O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam” Jorge Luis Borges cria uma narrativa labiríntica. Um enredo como uma sala de espelhos que coloca o leitor a andar em círculos, mas tudo faz sentido no final.
Lembrei do conto neste último fim de semana quando terminei de ler “Agosto” do Rubem Fonseca.
O romance se passa no mês de agosto de 1954, no último mês do governo, e da vida, de Getúlio Vargas.
Após um fracassado atentado contra a vida de Carlos Lacerda, os militares iniciam uma série de conspirações para a derrubada do presidente no que ficou conhecido como a República do Galeão.
Algo muito parecido com a República de Curitiba durante a fase da espetacularização da Lava-Jato em 2016.
O que faz a gente pensar que a História brasileira às vezes tem algo de realismo fantástico.
De vez em quando parece que tudo volta para o começo e se repete.
Com algumas diferenças: Getúlio se matou, Dilma é presidenta do Banco dos BRICS e anda de bicicleta.
Um fato curioso que conecta minha vida pessoal ao episódio Vargas é que meu saudoso pai nasceu no dia 18 de agosto de 1954, exatamente seis dias antes de Getúlio se matar.
No momento exato em que meu velho chegava ao mundo, os mandantes do atentado contra Lacerda eram presos na Baixada Fluminense.
Além de ler Rubem Fonseca, neste mesmo final de semana eu participei de manifestações pelo fim da escala 6 por 1, aquela que faz com que pessoas trabalhem seis dias e descansei só um durante a semana.
Uma luta por direitos trabalhistas, sendo que muitos dos que temos hoje foram conquistados durante os governos de Getúlio Vargas, assim como a Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobrás.
A CSN foi criada em 1941, mesmo ano do lançamento do conto “O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam” e meu pai transportou o aço que a empresa produzia por umas boas décadas.
E a Petrobrás foi uma das protagonistas do golpe de 2016.
E ontem saíram as notícias de conspirações para cometerem um atentado contra a vida do presidente da República, o vice e o chefe do Poder Judiciário.
Em círculos, como no conto de Borges.

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Tomaz Fantin

E-mail: tomazfs@yahoo.com.br

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